Devo acreditar na previsão do FipeZap?
- Hewa Engenharia
- 14 de out. de 2015
- 3 min de leitura
Índice projeta três cenários de queda de preços dos imóveis em 2016. Veja meus comentários sobre as previsões e fique atento aos detalhes.
Caro Leitor,
A Fipe divulgou no começo de setembro um relatório muito bom sobre a situação atual do mercado imobiliário brasileiro.
Foram listados os principais problemas que o mercado residencial enfrenta. O relatório não trouxe nenhuma novidade a nossos leitores, mas expôs problemas com (i) o crédito imobiliário e (ii) a rentabilidade do aluguel residencial.
Todo o texto foi muito bem pensado e escrito, mas dois aspectos importantes me incentivaram a escrever esta newsletter com comentários adicionais.
Um primeiro ponto está relacionado com o crédito imobiliário.
A análise feita pela Fipe, em parceria com o Zap Imóveis, mostra uma correlação muito forte entre o volume de crédito imobiliário e a evolução de preço de imóveis medida pelo índice FipeZap. Veja o gráfico.

Fonte: FipeZap
Olhando o gráfico, é extremamente tentador projetar os preços dos imóveis como uma proporção do volume de crédito imobiliário. Afinal de contas, o crédito imobiliário é um forte indicador de demanda de imóveis.
A maioria das pessoas compra um imóvel financiado, por isso o aumento dos financiamentos tem uma relação direta com o aumento de demanda.
Um forte aumento da demanda só pode ser respondido por um forte aumento da oferta e/ou um aumento de preços. Desde 2009 o que vimos foi uma resposta dupla: tanto o preço subiu, como a oferta subiu.
Mas agora que o volume de financiamentos está caindo, como será o ajuste?
Será que realmente podemos esperar uma queda de preços proporcional à queda do volume de financiamentos?
A aparente forte correlação dos dois itens nos compele, praticamente, a ter a certeza de que os preços cairão proporcionalmente à queda do volume de financiamentos.
No entanto, o que está acontecendo na prática é que grande parte do ajuste tem sido feita pelo lado da oferta e não pelo preço.
Vamos olhar o exemplo dos lançamentos da região metropolitana de São Paulo.

Fonte: Secovi
Se o comportamento do primeiro semestre for reproduzido no resto ano, a oferta de imóveis novos na cidade de São Paulo terminará 2015 com uma queda de 43% na comparação com o ano passado.
Portanto, a redução dos volumes de financiamentos está sendo ajustada por uma oferta menor.
Em outras palavras, as incorporadoras estão preferindo reduzir seu nível de negócios a reduzir preço, como podemos ver no gráfico abaixo.

Fonte: FipeZap
Um melhor indicador: quanto você pode pagar
Na minha opinião, um melhor indicador para os preços do mercado residencial seria um que levasse em conta três itens: (i) o custo dos financiamentos; (ii) a renda das pessoas e (iii) o preço dos imóveis. É o que em inglês se conhece como “affordability”. Em português, seria o quanto o cliente pode pagar.
A decisão do valor de compra de um imóvel leva em conta (i) o valor de entrada que o comprador tem disponível; (ii) o valor da prestação do financiamento (adequado à renda recebida) e (iii) preço do imóvel.
Em outras palavras, a maioria das pessoas vai comprar aquilo que cabe em seu bolso. Se a prestação é possível de ser paga, põe para dentro.
As exceções são raras e quase sempre estão no segmento de altíssima renda, em que a renda não tem importância na decisão de compra.
As incorporadoras foram muito competentes em captar o aumento da affordability (aumento do valor que o cliente pode pagar) que aconteceu desde 2005, resultado do aumento do número de prestações, da redução de custos de financiamento, da redução das exigências de entrada e do crescimento da renda.
O preço dos imóveis aumentou porque as pessoas conseguiam pagar as prestações dos financiamentos - cada vez mais baratos e cada vez mais longos. Assim, houve aumento no valor do imóvel sem uma grande mudança no valor da prestação.
Acredito que a melhora da affordability é que causou o aumento do volume de financiamentos, e não ao contrário.
Na minha opinião, portanto, o volume de financiamentos é um fraco indicador de preços futuros de imóveis.
Autor: Marcio Fenelon
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